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[Artigo] 170 anos do Braille no Brasil e 45 anos no Ceará: a trajetória da leitura acessível na Bece

Em abril, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) celebra os 170 anos do Sistema Braille no Brasil, marco significativo na história da acessibilidade literária no país, atribuído ao educador cego José Álvares de Azevedo. Nascido em 8 de abril de 1834, tornou-se um verdadeiro pioneiro ao trazer o sistema Braille da França para o Brasil. Sua dedicação à educação de pessoas com deficiência visual foi um divisor de águas, ampliando significativamente o acesso à leitura e ao conhecimento para esse público.

Através de José Álvares de Azevedo muitas pessoas cegas e com baixa visão puderam ter acesso ao mundo das palavras e seu intento trouxe muitos adeptos Brasil afora. Um exemplo significativo é o da professora Dorina de Gouvêa Nowill, que se destacou na criação da Fundação para o Livro do Cego no Brasil – hoje, Fundação Dorina Nowill -, que iniciou suas atividades em 11 de março de 1946.

A produção do livro em braille era um avanço, mas não poderia ficar apenas difundida em São Paulo. Com base nisso que na década de 1970 sua difusão ampliou para outras regiões, fazendo com que mais pessoas cegas, defensoras da popularização do braille lutassem pela democratização do acesso. Este fato aconteceu no Ceará.

Em 1979, um jovem cego, estudante da professora Dorina Norwill, José Newton, veio do Paraná morar em Fortaleza e em seu coração havia o sonho de formar um setor Braille na Biblioteca Pública. Em suas idas e vindas à Biblioteca, repletas de respostas negativas, encontrou Lúcia Frota, uma jovem estudante que o auxiliou a atravessar a rua e, durante a conversa, topou a empreitada.

Em setembro de 1979, a semente desse sonho era implantada no coração da guardiã da intelectualidade cearense, a então Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP), ganhava ali o que se tornaria o setor que envolveria sua concepção e ampliaria o conceito de livro, leitura e literatura.

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Atualmente, no setor de Leitura Acessível, a Bece tem o privilégio de abrigar o maior acervo braille do estado do Ceará, resultado do esforço contínuo e pioneirismo, contando com mais de 670 títulos, divididos em mais de 2.300 volumes e instrumentos dedicados à produção e difusão desse sistema. Esse acervo diversificado não representa apenas uma rica fonte de conhecimento, mas também um meio crucial na promoção da autonomia e protagonismo para as pessoas com deficiência visual. 

Para a Bece, deficiência visual jamais será uma barreira para adquirir conhecimento, apenas uma característica pela qual se acessa as informações por outros sentidos. Pessoas são diversas e as informações devem contemplar toda a diversidade, pluralidade e interseccionalidade sempre buscando qual a mais correspondente via de conhecimento, neste caso,  o Braille é fundamental.

Assinam este artigo Igor Girão e Marcos Rodrigues 

  • Minibio

Igor Girão
Homem com deficiência múltipla (visual e cadeirante), é bibliotecário do setor de Leitura Acessível da Bece.Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é o primeiro homem do Brasil com deficiência múltipla com mestrado em sua área. Militante da Acessibilidade cultural e escritor.

Marcos Rodrigues 
Homem negro com baixa visão; Ativista pelos Direitos Humanos; Mestrando em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará; Especialista em Políticas Públicas e Seguridade Social pela Faculdade Cearense; Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Plus. Trabalhador da Política Pública de Cultura na Biblioteca Pública Estadual do Ceará.

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